Publicado pelo Estado de Minas
Luciane Evans -
Publicação: 01/08/2011 07:52 Atualização:
Tecnologia evita perdas na separação de substâncias
fundamentais para quem precisa de transfusão. Patente já foi pedida ao
Inpi
Leonel Ziviani com sua invenção: aparelho separa plaquetas e
crio com mais qualidade e eficiência.
Como se não bastasse ter de praticamente laçar voluntários no país, onde
apenas 2% da população é adepta do ato, a doação de sangue, que salva milhares
de vidas, enfrenta outro desafio a ser vencido: o desperdício. Ao separar as
plaquetas e o crio do sangue doado, a fração na hora da separação dos
hemocomponentes muitas vezes é inferior ou superior à dose ideal para o paciente
que precisa da transfusão.
Quando isso ocorre, eles são descartados.
Para mudar
essa realidade, oferecendo aos bancos de sangue um aparelho de baixo custo e
capaz de tornar o processo mais eficiente e fiel à qualidade dos componentes
sanguíneos, evitando assim 99% das perdas, a Fundação Centro de Hematologia e
Hemoterapia de Minas Gerais (Hemominas), em parceria com a Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado (Fapemig), pediu, pela primeira vez em sua história, patente
para um equipamento com essa capacidade. O aparelho foi criado pelo técnico de
patologia clínica da Hemominas Leonel Fernandes Ziviani, que deu o nome a seu
invento de padronizador de crio e plaquetas.
A patente ainda está em
análise pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi), que em 19 de
julho publicou informações detalhadas sobre a invenção na sua Revista de
Propriedade Intelectual.
O fato sinaliza um "sim" importante para o pedido do
Hemominas, fundação responsável.
A publicação, que leva a público o passo a
passo de como o aparelho foi criado, veio depois de 18 meses que o número do
pedido de patente foi divulgado na mesma revista. Segundo explica o coordenador
do Núcleo de Inovações Tecnológicas da Fundação Hemominas, Cláudio Botelho, a
concessão da carta patente demora cerca de 10 anos. "Nos Estados Unidos, a
demora é de no máximo dois anos.
Mas essa espera brasileira é levada em
consideração para liberação dos direitos e dos royalties", diz, satisfeito com o
andamento do processo.
Mais orgulhoso está Leonel Ziviani, o inventor.
Funcionário do banco de sangue em Belo Horizonte desde 1983, ele conta que a
ideia surgiu em 2006, depois de perceber o desperdício no setor de separação dos
hemocomponentes.
Para a coleta de sangue de um doador, há três bolsas, sendo uma
chamada bolsa mãe e as outras duas, satélites. Elas são interligadas por um
sistema de tubos plásticos. O volume doado varia entre 405ml e 495ml, que vão
para a bolsa mãe. "Dela, são separados, num aparelho que se assemelha a uma
centrífuga, as hemácias e os plasmas, que vão para uma das bolsas satélites.
Depois, do plasma são retiradas as plaquetas, indo para a segunda bolsa
satélite. E, depois, o crio", explica Ziviani, dizendo que, para as separações,
é usado, atualmente, um aparelho que comprime os sacos de sangue, o chamado
extrator manual. "Mas para o processo é necessário um técnico que fique ‘de
olho’ no volume de cada componente, para evitar que falte ou sobre a quantidade
ideal a ser transferida para o paciente que vai recebê-lo",
acrescenta.
Mas, conforme alerta Leonel, a falha humana ocorre justamente
nessas etapas. Para as plaquetas, o ideal é o volume de 60ml e, para o crio,
20ml. "Então, o técnico deve estar atento na hora de ‘espremer’ os sacos e
separar as quantidades de cada componente.
Em caso de volume errado, o
componente sanguíneo é descartado, pois o paciente que precisa de transfusão,
como um hemofílico, deve receber a quantidade certa, caso contrário, corre
riscos de complicações de saúde", diz. E foi pensando justamente nessa
fração de erro que pode ocorrer que o técnico do Hemominas decidiu inovar,
criando o padronizador de crio e plaquetas. Ao custo de R$ 3 mil, o pequeno
aparelho, capaz de salvar vidas, tem uma espécie de dispositivo que é ativado
quando se consegue atingir o volume exato na extração de hemocomponentes.
"Fui a
uma tornearia para conseguir isso. Essa trava foi regulada com um volume único
para as plaquetas e, no caso do crivo, troca-se o lado dela. Não gasta energia
elétrica e não necessita de uma pessoa para ficar de olho para alcançar a
quantidade exata. O aparelho é operado sozinho e não há desperdícios", comenta,
dizendo que o volume é fundamental para a qualidade dos componentes sanguíneos ,
equilibrando PH e anticoagulantes. "Um paciente que precisa da transfusão não
pode receber nem menos nem mais, tem que ser exato. Na hora da correria isso não
acontece", diz.
Entenda como é feita a separação dos componentes sanguíneos
Para comprovar que seu invento tem mesmo essa vantagem
sobre os demais usados nos dias de hoje, foram avaliados 371 concentrados de
plaquetas e 216 crios preparados no hemocentro do Hemominas, na capital, no
período de fevereiro a setembro de 2008.
O padronizador substituiu os extratores
manuais de hemocomponentes usados. O invento alcançou o volume exato dos
componentes em 99% dos testes. Além disso, permitiu que o técnico, que sem a
invenção ficaria de vigilância para o peso dos produtos, tivesse tempo para
outras atividades.
Um dos países beneficiados pela criação é
possivelmente a África do Sul , que tem convênio com a fundação.
Leonel
reconhece que há equipamentos capazes de trazer o mesmo resultado, no entanto,
eles "chegam a custar cerca de R$ 300 mil". De acordo com ele, esta é a grande
vantagem da invenção: "É barata e eficaz.
Por isso, a minha invenção será mais
bem aproveitada em cidades do interior e países com menos recursos para a área",
aposta, lembrando que conta com a ajuda do engenheiro Paulo Roberto Gidiani para
desenvolver o projeto.
PATENTE
A descoberta não é a
única do hemocentro. Estão em processo de pedido de patente nada menos do que 12
invenções. "É um passo que o Hemominas dá para o futuro", diz, sem relevar
detalhes sobre os inventos, Cláudio Botelho, coordenador do Núcleo de Inovações
Tecnológicas do Hemominas.
Ele lembra que o Brasil ainda tem muito a conquistar
na área. "Somos o 13º no mundo em produção científica, mas estamos na 47ª
posição em inovação.
As pesquisas brasileiras estão focadas na produção de
artigos e custam a chegar ao cidadão comum. Já o ato de inovar sai das bancadas
e vai para as prateleiras.
Por isso, para a fundação, como um setor público
mineiro, por onde passam 90% dos sangues coletados no estado, esta primeira
patente sinaliza o rumo para o futuro que queremos tomar, focando esforços na
criação e manutenção de benefícios aos mineiros", comenta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário